sexta-feira, 24 de maio de 2019
A rainha introspectiva
Era uma vez uma mulher que se identifica pelo nome de Aparecida Augusta. Ela é uma rainha e vive escondida em um castelo há vários anos. Quanto à sua idade, não gosta de falar, no entanto disse que nasceu em 1938.
Neste dia ou por ser uma forma de se preservar, mostra-se arredia ao contato e responde de forma curta e direta. Conta ela que nasceu em cidade do interior de São Paulo, um local de nome Pindorama. Este nome: Pindorama é derivado do Tupi-Guarani, e era como os nativos denominavam o Brasil quando chegaram as expedições portuguesas.
Aparecida Augusta não conhece sua terra natal, saiu ainda na primeira infância junto com a família em direção à cidade de São Paulo. Relata que pouca recordação tem da infância e ressalta de forma enfática que a mãe era muito severa, batia muito, era “educação bem diferente do que temos hoje”. Tinha dois irmãos e eles ficavam aos cuidados de vizinhos, no horário que a mãe trabalhava. Conta que a mãe exerceu a ocupação de cozinheira e lembra que uma das coisas que mais gostava dos quitutes maternos era a bala de coco, “uma delícia”. Não aprendeu fazer as balas e não tem muito conhecimento de cozinha como a sua mãe.
Aparecida Augusta estudou pouco, segundo ela, até o terceiro ano do ensino fundamental. E atribui que sua saída da escola foi para trabalhar em casa de família. Lembra que trabalhou em uma família cuidando de crianças, sua função era levar os pequenos para passeios no parque e praças, não lembra se contava história para eles. Cita de forma triste que a situação de sua vida começou a ter dificuldade quando não mais conseguiu trabalho e precisou buscar lugares para “comer sopa”. No seu castelo, ela está há dezoito anos, não tem contato com parentes. Gosta do local e sente-se protegida “porque lá fora tem muitos bandidos”. Como diversão, gosta da música de Roberto Carlos e sua preferida é Jesus Cristo, não soube dizer o motivo e se recusou a cantar. Também gosta de jogar dominó. Neste jogo, ela mostra-se com habilidade para colocação das peças, uma vivacidade que não apresenta quando conversou sobre sua vida. Ao se despedir, expressa um sorriso e está receptiva ao contato físico. Assim, Aparecida não quis se mostrar para o mundo, pelo menos, neste dia não está com disponibilidade para falar muito e ser descoberta em seu castelo...
Autora: Deise M R de Amorim
Idosa: Aparecida Augusta
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