quarta-feira, 22 de julho de 2015

Histórias de cigano




“Setembro de 2014. Tanto tempo se passou! E aqui estou eu hoje, aos 61 anos, casada, mãe de quatro filhos, sete netos...Ainda me lembro com saudades da minha infância, filha de gente humilde, camponeses, meus pais tiveram dez filhos e trabalhavam nas fazendas do interior. Era uma vida difícil mas éramos felizes e à noite, quando me deito, me veem as lembranças das nossas brincadeiras, da ciranda e da roda, sempre à tardinha: ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...Quando a noite caia, no terreiro da nossa casa, meu pai se reunia com mais outros trabalhadores como ele, amigos e, à luz da lua, das estrelas e do lampião eles contavam histórias, casos, e cantavam moda de viola enquanto nós, as crianças, brincávamos de passa anel, feijão queimado, pula corda...Era muito bom, mas meu pai e minha mãe gostavam de vida de cigano, a gente vivia mudando de fazenda,  trocávamos de escola umas duas vezes ao ano. Moramos num lugarejo, eu me lembro, que  meu irmão caçula  e eu adorávamos, porque lá tinha um carro  que fazia a venda  de doces e quando ele passava para fazer a entrega nas pequenas mercearias da região, nós dois corríamos até a porteira e ganhávamos doces e balas...Coisa de criança! Mas durou pouco tempo e de novo nos mudamos, dessa vez pra uma casinha que era mais uma tapera, coberta de sapé. Um dia, uma das minhas irmãs jogou querosene no fogão a lenha, a labareda subiu, queimou a palha do sapé...Ficamos mais de um mês dormindo no relento, só as paredes da casinha, mas nós gostávamos mesmo assim, ficávamos olhando os vaga-lumes, ouvindo o canto das cigarras, as corujas...Saudades! Novamente mudamos, era necessário, não dava pra ficar naquele desamparo.Mas dessa vez papai acertou, viajou para o Mato Grosso para ver como andavam as coisas por lá e voltou com a ideia de fazer uma tal de cerca paraguaia que ninguém conhecia pelas redondezas.Depois da primeira fazenda cercada por ele a notícia se espalhou e, com a ajuda dos meus irmãos mais velhos tudo melhorou. Papai e mamãe podia até viajar e é claro, na ausência deles, nós podíamos aprontar...Coisas de criança! ”

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