segunda-feira, 4 de novembro de 2019

História de Isabel


"Era uma vez uma linda menina chamada Isabel.”
Fruto de uma família de 11 irmãos. Seu pai, um viajante, transportador de madeiras, desbravador de caminhos entre São Paulo e Paraná. Isabel era sua companheira de viagem. Adorava acompanhá-lo.
Sua mãe? Uma verdadeira heroína. Teve os 11 filhos em casa com parteira. Desses 11 filhos 8 sobreviveram: 6 mulheres e dois homens. Sempre muito unidos. No Natal principalmente era uma festa linda. A mãe , na ausência do pai, se esmerava em cuidar dos filhos. Nunca ficou doente. A primeira vez que foi a um hospital já estava com 97 anos. A doença? Velhice mesmo. Resolveu que era hora de ir embora e se foi.
O pai já tinha partido há muito tempo. Em 1965, de insuficiência cardíaca. Em plena rua. Sentiu-se mal e também se foi. A partir daí, Isabel assumiu a responsabilidade pela família. Cuidou da mãe, dos irmãos. Foi e ainda é uma menina alegre, comunicativa, vivaz. Sempre gostou de dançar.
Fazia sucesso nos bailes. Lembra-se até hoje de um parceiro de dança, pé de valsa, que costumava, com ela, abrir e fechar os bailes. No álbum de fotos que ela guarda até hoje, está tudo registrado. Cinema ? Gostava também. Lembra-se até hoje que vendia abóbora na rua, para juntar um dinheirinho para o cinema. E o irmão vendia sabão feito pela mãe. Isabel quase se casou. Enamorou-se de um viúvo, mas os filhos dele foram contra a união. E para não fomentar desavenças continuaram amigos. Talvez casamento não estivesse na sua programação para esta vida.
Ela veio mesmo para cuidar: da família, dos irmãos. Mas foi uma vida bastante agitada. Estudou, trabalhou, tornou-se oficial de farmácia. Fez muitos cursos. Lecionou. Na escola os alunos a adoravam, tinha sempre uma palavra amiga, sobretudo com os mais rebeldes.
Já aqui em São Paulo, foi voluntaria durante 40 anos, nesta Instituição Bezerra de Menezes. Fazia de tudo. Adorava servir. Sua irmã caçula, também trabalhou como assistente social nesta casa. Faleceu muito novinha, com apenas 31 anos (câncer de útero).
E assim decorreu a vida de Isabel. Sempre zelosa e dedicada. Agora, aos 83 anos, já com a mobilidade reduzida (está numa cadeira de rodas), tomou uma decisão difícil, resolveu desapegar-se de seus bens e doá-los à instituição que sempre fez parte de sua vida. Assim, há um mês ela, que sempre cuidou, está sendo cuidada, e, segundo ela, por aqui vai ficar até quando Deus quiser. Esta é a história da menina Isabel, nossa querida Rainha, homenageada nesta tarde, com manto e coroa, como bem merece.




Autora: Maria Aparecida Rodrigues Escovar
Idosa: Isabel Alves de Medeiros

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