Dona Giscelda, mineira de Uberlândia, sempre teve uma presença firme — daquelas que, com um olhar, fazia três filhos e dois cachorros entrarem em silêncio na sala. Aos 86 anos, morando em São Paulo, ela é uma especialista em café passado na hora, resolver palavras cruzadas e... chorar escondida no elevador.
Seu sonho sempre foi ser independente — coisa difícil para uma moça dos anos 50, ainda mais tímida como ela era. Mas o destino resolveu dar uma agitada em sua vida quando, de uma hora
pra outra, ficou viúva e teve que virar mãe, pai, conselheira e mecânica de máquina de lavar — tudo ao mesmo tempo.
Com a mudança para São Paulo, Giscelda começou a entender que a vida não vinha com manual. Criar três filhos sozinha era como cuidar de um zoológico emocional: um adolescente rebelde, uma filha artista e outro que vivia gripado.
Teve que aprender a dar conta de tudo — da feira ao boletim escolar — sem surtar (na frente dos filhos, pelo menos). Mas seu lugar secreto de desabafo era o elevador do prédio. Lá, entre o térreo e o 8º andar, rolava sessão gratuita de choro silencioso, seguida de um "puxa vida" e uma ajeitada no batom.
Certo dia, uma vizinha entrou no elevador no meio de um desses momentos. Giscelda, sem perder a compostura, soltou:
— Ah, é só a cebola da salada que subiu comigo.
Os anos passaram, os filhos cresceram (e deram um certo trabalho, como todo filho bem criado). Ela superou o medo de falar em público, viu a filha brilhar na TV e finalmente teve tempo de plantar violetas na varanda.
Hoje, Dona Giscelda ainda tem saudade do marido, mas aprendeu a rir de quase tudo. Diz que o segredo da vida longa é:
1. Nunca guardar mágoa.
2. Sempre ter um bom café.
3. E, se for chorar, que seja no elevador, de preferência sozinha.
A vida pode até ser difícil, mas com um pouco de humor e uma boa xícara de café, a gente chega lá — mesmo que seja pelo elevador. E você, tem um cantinho secreto para pensar ou desabafar?
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