Cláudio era um menino cheio de energia e sonhos, que passava os dias correndo pelas ruas do bairro do Ipiranga com seus amigos. Numa tarde de verão, com o sol forte iluminando tudo, ele decidiu ir até o terreno atrás do Museu do Ipiranga. Ali, cresciam bambus perfeitos para fazer pipas, e era como um ritual entre os garotos ensinar os mais novos a fazerem suas pipas. As risadas e conversas se misturavam com o som dos galhos sendo cortados, e eles sempre voltavam para casa com os bambus finos e retos, prontos para virarem pipa.
Cláudio ainda era novo nisso, mas os meninos mais velhos, como o João, que já estavam no grupo fazia tempo, ensinavam todas às técnicas para construir a pipa perfeita com paciência. Enquanto cortava um bambu, Cláudio se aproximou dos amigos. "João, esse bambu aqui tá bom?" — perguntou, com os olhos brilhando de expectativa.
João, com seu jeito calmo, olhou e sorriu. "Esse tá ótimo, Cláudio. Agora, só não corta muito fino, senão a pipa não vai aguentar o vento.”
Cláudio acenou com a cabeça e voltou ao trabalho, orgulhoso da aprovação de João. Ele era o líder do grupo, tinha uns 15 anos, e seu jeito tranquilo fazia os mais novos olharem para ele com admiração. "João, como eu faço pra pipa subir rápido?" — Cláudio perguntou, curioso, enquanto amarrava as varetas.
"Ah, isso é fácil, mas tem que fazer com cuidado," respondeu João, enquanto mostrava como amarrar as varetas de forma que a estrutura ficasse firme, mas leve. "Não aperta demais a linha, senão ela quebra. E escolhe um papel de seda bom, que não rasgue com o vento."
Havia algo quase mágico em transformar aqueles pedaços de bambu e papel de seda em uma pipa que, se tudo desse certo, iria dançar no céu. Cada um escolhia as cores de acordo com a própria personalidade, e Cláudio escolheu vermelho e azul para a dele, vibrante e chamativa, e logo foi comprar o papel de seda para fazer sua pipa, com os trocados que sua mãe lhe deu.
Depois de horas de trabalho, conversas e risadas, finalmente o momento tão aguardado tinha chegado. Eles iam ao campo aberto perto do museu, onde o vento sempre parecia estar à espera das pipas. João deu as últimas instruções. "Corre devagar, solta a linha aos poucos. Quando o vento puxar, aí você corre," disse, sorrindo.
Cláudio se preparou, coração batendo rápido. "Vai, Cláudio, agora!" — João gritou, e Cláudio começou a correr, soltando a linha devagar. Sentiu o vento puxar a pipa, fazendo o papel de seda vibrar. Seus pés tocavam o chão, mas seu coração já estava nas alturas, e quando viu a pipa começar a subir, uma sensação de euforia tomou conta dele.
"Olha só, João! Ela tá subindo!" — Cláudio exclamou, e João respondeu com um sorriso satisfeito. "Eu disse que você ia conseguir."
O céu parecia mais bonito com as pipas coloridas espalhadas pelo ar. Cláudio segurava o carretel com força, mas ao mesmo tempo sentia uma leveza enorme dentro de si. Era como se, lá no alto, junto com sua pipa, estivesse um pedaço dele. A cada puxão da linha, ele sentia a pipa responder, e, naquele instante, Cláudio percebeu que agora fazia parte de algo maior. Os mais velhos tinham ensinado, agora ele sabia, e um dia ele também ensinaria aos mais novos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário