José era um garoto de 13 anos que vivia numa cidade grande, onde tudo parecia rápido demais. As pessoas andavam apressadas, os dias passavam voando e quase ninguém tinha tempo para contar histórias ou brincar na rua. Numa tarde chuvosa e entediante, José resolveu explorar o porão do prédio onde morava. Entre caixas antigas e teias de aranha, encontrou um objeto curioso: uma poltrona coberta de poeira, com botões coloridos e um aviso colado na lateral que dizia: “Máquina do Tempo da Memória – Use com cuidado.”
Sem pensar muito, ele apertou o botão verde. Imediatamente, tudo ao seu redor começou a girar, as luzes piscaram, e um vento invisível o envolveu como se estivesse sendo levado para outro lugar. Quando abriu os olhos, José não estava mais no porão. À sua frente, uma rua de paralelepípedo se estendia sob um céu limpo, o ar tinha cheiro de pão fresco e sons de risadas enchiam o ambiente. Uma placa na esquina dizia: “Bem-vindo a São João da Boa Vista – Ano de 1963.”
Um senhor simpático se aproximou e se apresentou como Vô Nino. Com um sorriso acolhedor, levou José até uma casa onde uma grande família se preparava para a festa de fim de ano. Todos estavam alegres, decorando o quintal e rindo juntos. Mas o mais especial ainda estava por vir: o tradicional teatro de Natal com os primos. Figurinos feitos à mão, roteiros inventados na hora e a plateia formada por tios, avós e vizinhos criavam uma atmosfera mágica. José foi convidado a participar e, sem saber exatamente como, acabou como personagem principal da peça. Naquela noite, sentiu-se acolhido, como se fizesse parte daquela família, daquela época, daquele amor simples e verdadeiro.
Mas, de repente, a poltrona mágica reapareceu e começou a apitar. O tempo da viagem estava se esgotando. José se despediu com o coração apertado, e num piscar de olhos, estava de volta ao porão do prédio.
Nos dias seguintes, ele não parava de pensar naquilo tudo. Mesmo sem saber se era um sonho ou realidade, uma ideia começou a crescer dentro dele. Reuniu seus amigos da escola e propôs algo diferente: montar um teatro de fim de ano, como nos tempos antigos. A turma topou e, juntos, criaram uma peça cheia de emoção, criatividade e afeto.
No dia da apresentação, enquanto os aplausos ecoavam pela sala, José jurou ter visto, lá no fundo da plateia, o Vô Nino sorrindo e piscando o olho. E foi aí que entendeu: às vezes, a memória dos outros pode acender a nossa própria história.

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